Você já parou para pensar a quantidade de recursos usados para você manter o seu padrão de vida? Tudo o que consumimos vem, de alguma maneira, da natureza, da folha de alface à bateria do seu telefone celular. Da mesma forma, os itens que descartamos voltam à natureza de alguma forma.
Os nossos hábitos de consumo, portanto, modificam o planeta em que vivemos, muitas vezes de forma negativa, gastando recursos naturais além do que é possível renová-los, ou aumentando a quantidade de lixo, ou trazendo impactos para o clima.
Pensando nisso, vem se popularizando o que foi chamado de Consumo Consciente, uma forma de enxergar a forma como utilizamos produtos e serviços a partir do impacto que eles causam ao planeta. E nessa equação também foram incorporados outros fatores a serem considerados, como o respeito à legislação trabalhista por parte dos fabricantes, os projetos sociais administrados por eles, e por fim a nossa própria relação com o dinheiro.
Neste artigo, vamos apresentar este tema em profundidade.
O que é Consumo Consciente?
O Consumo Consciente pode ser interpretado como uma filosofia de vida, baseada na redução do consumo exagerado e de grande impacto social ou ecológico. Afinal, o ato de consumir não afeta somente quem compra, mas também traz consequências para o meio ambiente, a economia e a sociedade.
De acordo com pesquisa feita pelo SPC Brasil em 2019, 41% das pessoas acham que o consumo consciente está voltado apenas para o aspecto financeiro, ou seja, de pagar menos por determinado produto. Mas não é somente isso, o conceito vai além.
O olhar consciente sobre o consumo envolve entender se a maneira como ele é produzido impacta o meio ambiente: se ele é poluente, se a embalagem pode ser reciclada, se há testes em animais, se ele pode ser substituído por outro produto mais barato e produzido de maneira correta.
Além disso, também é levado em consideração a relação dessa empresa com a sociedade e a comunidade em que ela está inserida. Exemplos práticos disso é valorizar companhias com programas sociais e engajadas em projetos das mais variadas naturezas, como o esporte, a educação e a cultura. E, claro, rejeitar empresas envolvidas em trabalhos análogos à escravidão.
Por fim, também entra em questão o aspecto econômico. Em primeiro lugar, esse produto é realmente necessário, ou ele poderia ser considerado um desperdício? Comprá-lo está dentro das suas possibilidades, ou você irá se endividar de maneira excessiva?
São pequenas escolhas que podem fazer a diferença na nossa vida, e impactam positivamente a sociedade e o meio ambiente, com foco na sustentabilidade, além de incentivarem o investimento em maneiras conscientes de trabalhar e produzir.
Por que ser um consumidor consciente?
Cada um de nós, humanos, tem uma filosofia de vida que norteia nossas decisões e opiniões, mas isso não significa que ela precisa ser imutável. Vivenciamos experiências todos os dias, que nos fazem repensar e mudarmos nossa visão das coisas.
Durante muito tempo, o impacto do nosso consumo não foi algo a ser considerado, uma vez que o planeta dispõe de uma quantidade gigantesca de recursos. Mas, com o tempo, as coisas mudam. A ciência nos permite hoje enxergar melhor o impacto das nossas ações no clima, na poluição e no esgotamento de recursos.
Um fator primordial para isso foi o aumento da população. Há 100 anos, estimava-se que viviam na Terra cerca de 1,8 bilhão de pessoas. Em 2023, devemos atingir a marca de 8 bilhões de indivíduos no planeta. E todos eles utilizam os recursos naturais disponíveis para viver.
Segundo a entidade WWF, atualmente seriam necessários 1,75 planetas Terras para fornecer os recursos que a humanidade consome. Em outras palavras, gastamos 75% mais recursos do que o planeta é capaz de renovar. É claro que esta conta não fecha. Pensando a longo prazo, é preciso que as pessoas comecem a agir o quanto antes para evitar um colapso.
De acordo com pesquisas feitas pelo Instituto Akatu, que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o tema, o consumo mundial está mal distribuído e descontrolado.
O levantamento mostra que 20% da população mundial concentra em 80% o consumo de produtos e serviços disponíveis. Ainda mostra que a cada ano, 150 milhões de novos consumidores entram no mercado. A conta não fecha.
Você se lembra que, no início da pandemia, várias regiões do mundo registraram uma qualidade do ar muito melhor do que o comum? Isso ocorreu, pois, várias pessoas deixaram de se deslocar diariamente, o que reduziu a poluição gerada a partir de veículos. Foi uma grande mudança de hábitos, causada por um evento de proporções imensas, mas que mostra como nossa atividade altera o ambiente em que vivemos.
Portanto, tornar-se um consumidor consciente envolve uma grande mudança de mentalidade, e as pessoas estão dispostas a isso. De acordo com pesquisas realizadas em 2018 pelo Instituto Akatu, os brasileiros estão interessados em adotar práticas de consumo consciente e abandonar hábitos indiferentes e insustentáveis.
Então, aderir ao consumo consciente acaba sendo uma forma de unir o útil ao agradável, adaptando-se às mudanças que o planeta nos pede para fazer, e auxiliando no processo de deixar o mundo mais sustentável.
Como o Brasil lida com o consumo?
- Em pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 97% dos brasileiros afirmam ter alguma dificuldade em começar a praticar o consumo consciente.
- Os responsáveis por essa dificuldade em adotar hábitos conscientes são os altos preços dos produtos orgânicos (37%) e o obstáculo de separar o lixo para a reciclagem (32%).
- 30% dos entrevistados afirmam não conseguir reduzir de alguma forma a quantidade de lixo gerado, enquanto outros 30% encontram barreiras no engajamento dos vizinhos em adotar essa prática.
Mas mudar de hábitos demanda tempo, e de acordo com o SPC Brasil e a CNDL, o brasileiro se encaixa como um “consumidor em transição”, com mais da metade (58%) mantendo práticas de consumo consciente, mas de maneira inconstante.
Como faço para virar um consumidor consciente?
Existem algumas mudanças de comportamento que podem ser feitas para tornarmos consumidores conscientes.
– Planejar as próprias compras
Isso ajuda no seu planejamento financeiro e contribui para evitar o desperdício. Começar a planejar compras ao fazer uma lista antes de sair, e segui-la à risca, é um bom começo.
– Responsabilidade ambiental e social no consumo
Poucas pessoas avaliam o impacto que uma compra pode ter no meio ambiente. E isso não se limita só a alimentos, mas também a itens de vestuário e eletrônicos que geram impacto negativo à natureza.
Uma dica é reutilizar garrafas de alguma forma, ou usar aquela roupa que está no fundo da gaveta. Se alguma coisa puder ser consertada, faça isso em vez de comprar um novo.
– Empresas que compartilham a ideia de consumo consciente
Vez ou outra as empresas lançam comerciais mostrando como estão melhorando seus processos para gerar menos poluição, e engajando os consumidores a terem responsabilidade com o consumo.
Opte por empresas que adotem boas práticas ambientais, sociais e trabalhistas ao realizar suas compras. Isso incentiva a continuação da prática e encoraja outras empresas a adotarem o consumo consciente.
– Mantenha-se fiel às mudanças
É difícil adaptar-se a novos costumes pois não encaramos mudança com naturalidade, ainda mais se ela for feita bruscamente. Então dê tempo ao tempo, e faça as coisas de maneira gradual.
Resistir à tentação de uma compra impulsiva, não deixar de pesquisar sobre os produtos ou a empresa, tentar separar o lixo para a reciclagem, por exemplos, são ações que com o tempo viram rotina.
– Priorize pequenos produtores
Eis uma ótima forma de começar uma mudança. Pesquise por produtores da sua região e opte por comprar deles. Acaba sendo uma forma excelente de economizar, além de contribuir positivamente para o meio ambiente, já que diminui o uso de combustíveis para transporte dos produtos. Ainda por cima, incentiva a economia regional.
– Cuidado com os serviços de crédito
Como sempre falamos, é fundamental ter um planejamento financeiro para evitar o endividamento. E no consumo consciente, ter cuidado com a quantidade de crédito disponível é um ponto chave. Isso inclui cartões e cheque especial.
Ter essa disponibilidade estimula o consumo excessivo. Por isso, mantenha-se sempre dentro do orçamento planejado e evite parcelar compras. Aderir ao consumo consciente é também ter uma vida financeira saudável.
– Evite desperdício
O desperdício não acontece só em produtos que compramos, mas em serviços que utilizamos diariamente, como água e energia. Então, analise o quanto você consome nesses serviços e veja se há como economizar.
Optar por eletrodomésticos que consumam menos energia, maneirar no tempo do banho e evitar o uso da água para lavar a frente da casa são algumas formas de economia que fazem uma diferença enorme.
O consumo consciente na infância
Crianças são influenciáveis, já que estão em um período da vida em que absorvem muitas informações. Por isso, é responsabilidade dos adultos formar as gerações seguintes para viverem o consumo consciente.
Discutir educação financeira ainda na infância é uma forma de fazer as crianças entenderem como tratar os desejos de consumo e utilizar o dinheiro que tem em mãos. A esse assunto podem ser incorporados outros, como consciência ambiental e alimentação saudável.
Conclusão
Além de tudo já citado no texto, há um ponto importante que integra o consumo consciente: a cobrança do poder público.
Podemos começar mudando individualmente e incentivando pessoas próximas a entrar no movimento, começando assim, uma mudança coletiva. Mas é fundamental que para agir no todo, o poder público seja cobrado para que haja alteração nas leis e regulamentação de processos de produção.
Assim, com o empenho de governos, empresas e consumidores, conseguiremos chegar a um novo patamar de consumo consciente, marcado pela sustentabilidade e pela redução do desperdício.
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